O NOSSO TEMPO: Suplica de Um Pai


  • Sabe meu filho, até hoje não tive tempo para brincar com você. Arranjei tempo para tudo, menos para ver você crescer. Nunca joguei dominó, dama, xadrez ou vídeo game com você.
  • Sabe meu filho, percebo que você me rodeia, mas sou muito importante e não tempo para você. Sou importante para inúmeros convites sociais, uma serie de compromissos inadiáveis que não posso abrir mão, só posso abrir mão de você.
  • Sabe meu filho, não posso largar tudo isso para sentar no chão com você. Um dia você veio com caderno da escola para o meu lado, não liguei, continuei lendo o jornal. Afinal, os problemas do mundo exterior são mais importantes do que o meu mundo que é você, meu lar e da nossa vida.
  • Sabe meu filho, nunca vi o seu boletim e nem sei que é a sua professora, não sei nem qual foi a sua primeira palavra, também, você entende... não tenho tempo.
  • Sabe meu filho, de que adianta saber as mínimas coisas de você, se eu tenho outras grandes coisas, a saber? Puxa, você cresceu! Você já passou da minha cintura. Está alto. Eu não havia reparado nisso, alias, não reparo em quase nada, minha vida é corrida, e quando tenho tempo prefiro usá-lo lá fora. E se uso aqui, perco-o calado diante da TV. Porque a TV é importante e me informa muito...
  • Sabe meu filho, a última vez que tive tempo para você, foi numa cama, quando eu e sua mãe o fizemos!
  • Sabe meu filho, sei que você se queixa que você sente falta de uma palavra, de uma pergunta minha, de um corre-corre, de um chute na sua bola, mas eu não tenho tempo...
  • Sabe meu filho, sei que você sente falta do meu abraço e do meu riso, de andar a pé até a padaria para comprar guaraná, de andar a pé até o jornaleiro para comprar o Pato Donald. Mas sabe há quando tempo não ando a pé na rua?
  • Sabe meu filho, não tenho tempo, mas você entende, sou um homem muito importante. Tenho que dar atenção a muitas pessoas. Dependo delas... filho, você entende...
  • Sabe meu filho, na realidade, sou um homem sem tempo! Sei que você fica chateado, porque as poucas vezes em que falamos é monólogo, só eu falo, e noventa e nove por cento são broncas. Quero silêncio, quero sossego! E você tem péssima mania de vir correndo sobre a gente, você tem a mania de querer pular nos braços dos outros...
  • Sabe meu filho, não tempo de abraçá-lo, para ficar com papo-furado com criança. Como é que vou parar para conversar com você? Se você não entende de computador, comunicação, cibernética, racionalismo?
  • Sabe meu filho, não tenho tempo, mas o pior de tudo, o pior é que... se você morresse agora, já, neste momento, eu ficaria com um peso na consciência porque até hoje não arrumei tempo para brincar com você. E na outra vida, por certo, Deus não terá tempo de me deixar, pelo menos, vê-lo!...

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